O Vampiro é uma Patologia dentro da Psique Feminina
—“Muitos colocam o vampiro em lugares onde certamente, pelo folclore, ele não habitaria, outros, o confundem com sentimentos e expectativas humanas de carência afetiva, escassez, saciação do desejo e controle do poder, porém o vampiro, não é mais humano, embora seja o nosso descendente. Falamos de um aspecto atávico de nossa espécie”.—
O Vampiro como Arquétipo é o registro simbólico de um estágio de desenvolvimento da consciência humana (a nossa oralidade) em busca de sua individuação[1], e impulsiona o ser humano a traduzir sua linguagem cifrada para o consciente, assim como a Esfinge: “decifra-me ou te devoro!” – no caso do vampiro, literalmente.
Enquanto não o deciframos, seus complexos, seus automatismos, suas paranoias se perpetuam dentro de nós, drenando-nos e sugando-nos altas doses de energia psíquica.
O vampiro nos mostra os conflitos e ilusões humanas potencialmente plantados no passado, com todas as possibilidades de realização contidas nos assuntos da atualidade. Em certo sentido, ele é o provocador causal de conflitos emocionais e ideológicos, habilmente treinado pelos seus instintos e conexões lunares com a Mãe Terra, a nos ensinar o andar noturno. Sabe aquela conexão escura, adormecida e esquecida das “entranhas da terra” que não gostamos sequer de saber que temos? O vampiro a conhece bem.
Nosso papel nesta relação é devolver ao vampiro que habita as nossas profundezas a possibilidade de acessar seus conteúdos diurnos através de nós e atender ao seu maior desejo: o de caminhar sob o Sol sem perder seus poderes e ensinar-lhe que não precisa mais temer a morte – no seu caso, a segunda.
Não podemos educar os demônios de ninguém
Não podemos educar os demônios de ninguém, mas se estivermos dispostas a conhecer e educar os nossos, eles se somarão a nós como forças favoráveis ao nosso desenvolvimento e nos tornaremos livres. Portanto, não se educa o vampiro de ninguém – ainda mais se “ele” não quiser, pois se trata de uma instância interna sombria de cada pessoa.
Muitos colocam o vampiro em lugares onde certamente, pelo folclore, ele não habitaria, outros, o confundem com sentimentos e expectativas humanas de carência afetiva, escassez, saciação do desejo e controle do poder, porém o vampiro, não é mais humano, embora seja o nosso descendente. Falamos de um aspecto atávico de nossa espécie.
Se aprendermos a escutar o que ele tem a nos dizer, ele nos fornecerá as informações psicológicas que precisamos para adentrarmos as verdades mais profundas de nossa psique, entendendo que ele é um estágio de crescimento na vida de nossa civilização, nos revelando não apenas os conflitos e as ilusões, como também as potencialidades da situação do momento presente:
- Crenças que podem ser ressignificadas para o Feminino,
- Nos libertando das neuroses sedutoras do amor infantil,
- Amadurecendo o amor romântico,
- Nos ensinando a reconhecer as características do amor oportunista e interesseiro,
- Ajudando-nos a libertar nossa sensualidade original e,
- Reconhecer nosso amor verdadeiro por nós mesmas.
[1] Individuação. Termo utilizado por C. G. Jung que designa a jornada de uma pessoa para tornar-se si mesma, inteira, indivisível e distinta de outras pessoas ou da psicologia coletiva, diferenciada do acordo de massa. É o processo pelo qual uma pessoa se torna única, essencial a si mesma, “in-dividual”, isto é, não divisível, “um todo em si mesma”: exclusiva em relação a si própria, especial e particular – o aspecto divino de Si.
Excerto do meu livro "O Vampiro no Divã", disponível na minha loja e no Clube de Autores.