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A Queda de Albion — Um Conto Fantasia (ou uma memória muito antiga)…

"Ele havia perdido suas asas na guerra. E as costas sangradas lhe doíam. Em primeira análise, era um ser inadequado para conviver com os caminhantes." — Escrito originalmente em 18 de Janeiro de 2018.

Como podia ter calculado tão mal o revide? Perguntava a si mesmo. Subitamente tudo estava acabado, os seres de asas do exército inimigo perderam a batalha, mas ele, Albion, estava perdido no meio daquela multidão que usava os pés.

Havia um sábio respeitado entre "eles que andavam", que os aconselhava em momentos decisivos, e Albion achou que talvez aquele homem pudesse lhe ajudar em alguma coisa, alguma diretriz... Albion era bom nas questões estratégicas dos céus, mas não sabia nada sobre como viver usando apenas os pés.

Um Ex-Alado em Exílio

Albion chegou até o sábio e pediu:

— "Senhor, vejo que ajuda as pessoas nas maiores e menores questões com uma paciência invejável. Eu desci para a causa de vocês, mas fui abatido e agora vejo-me preso aqui em baixo sem conseguir voltar para casa. O senhor teria alguma coisa para mim? Pode ser qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, porque depois que perdi minhas asas sinto-me um miserável, completamente desqualificado... Eu não sirvo mais para o meu povo."

O sábio observou Albion em toda a sua estatura e majestosidade de dois metros e meio. Mesmo sem as asas era inegável que se tratasse de um belo espécime. As raças dos seres que voam eram muitas, mas a de Albion se sobressaía não só pela beleza, mas pela majestosidade e realeza, mesmo quando eram violentos — eles sabiam guerrear com uma elegância que não se comparava a nenhuma outra espécie!

Ali, parado e admirado diante de um ser tão grandioso que não se reconhecia nem se aceitava por causa de uma perda grave de referência de si mesmo — pois perder as asas para um alado seria como perder a melhor perna para um caminhante — o sábio parecia perscrutar a alma aflita de Albion, que por sua vez, não suportou o silencio e o olhar do velho homem, interrompendo sua reflexão:

— "Como vocês conseguem? Como vocês conseguem superar? Eu preciso entender! Eu não entendo essa forma de viver! O que eu faço comigo mesmo não sendo nascido como um de vocês?"

O velho homem respirou fundo e olhou Albion ali arcado diante dele, destruído por dentro e por fora, na mais obscura profundeza de seus olhos, lhe respondendo:

— "Aqui, meu filho, nós caminhamos, pois esta é nossa primeira natureza. Vamos subir a montanha, você está convidado a subir conosco. Deixe-nos ajudá-lo. Verá que usar as pernas faz parte de sua segunda natureza, e assim descobrirá que os limites que você via em nós quando nos olhava de cima, não significam nada para um ser que usa os próprios pés aqui em baixo — e assim como nossos passos, vivemos uma vida de cada vez."

Albion olhou para os lados, e os caminhantes estavam subindo a montanha, uma vez que o vilarejo fora destruído. Simplesmente desapegados, muitos sujos, alguns feridos, todos caminhavam sem reclamar, agradecidos por simplesmente estarem vivos e juntos. Foi então que Albion reparou no aleijado da vila, que sempre andava como podia de um jeito engraçado e nunca reclamava — não porque era submisso, mas porque era simplesmente bem humorado! Albion nunca entendera o sorriso largo daquele pobre homem, que não passava de um meio caminhante, por ser aleijado e só atrasar os demais. O homem sorriu para Albion e continuou seguindo juntamente com os demais, fazendo piadas de si mesmo e provocando risos em todos diante de um quadro tão desolador.

Exatamente naquele instante, Albion percebeu que o que lhe acontecera fora apenas uma consequência de sua própria decisão e de um cálculo mal feito num momento de defesa — afinal, ele ainda tinha as duas pernas, apesar do coração partido por ter perdido as asas. Ele sabia que nunca mais seria o mesmo. Ele também ficara aleijado para os seus iguais — como aquele homem pequeno cujo sorriso não lhe fazia sentido algum. Segundo os costumes de seu clã, ele seria julgado e exilado por ter desobedecido a proibição.

Albion sabia o risco que corria ao descer, e mesmo assim seu senso de justiça falou mais alto. Ele sabia que seria deixado para trás caso viesse a despencar dos céus, as regras foram bem claras quando ele aceitou a proposta rebelde de intervir a favor dos caminhantes.

Diante deste novo desafio que se abria ao olhar de Albion, ele tomou uma decisão: podia lamentar sua condição ou fazer como os sobreviventes, subir a montanha. Ele pegou o aleijado no colo, pois tinha boas piadas e achou que poderia aprender algo com aquele meio ser, e começou a andar com os caminhantes — ele agora era um deles.

Aceitar as mudanças faz parte de nossa evolução em vida. Responsabilizar-se por si mesmo também. Assim como não se subestima um ser que voa, jamais subestime um caminhante — ou um meio caminhante. Ele pode não conhecer o céu, mas a terra os seus pés e seus olhos conhecem bem. Respeitemos as nossas diferenças, acolhendo aqueles que chegarem para somar, vivendo uma vida de cada vez.

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